sexta-feira, 11 de março de 2011

E agora, Jardel?

Hoje ouvi a história do Jardel! O Jardel sempre viveu na rua. Nasceu, cresceu e até hoje – se não fosse pelo ocorrido que me fez saber de sua existência – era por lá que ele vivia. Alguns dizem que ele já vendeu balas nas quadras da Asa Sul, outros falam que ele pedia esmola ou fazia palhaçadas nos semáforos, vigiava carros e até carregava sacolas para as senhoras ricas que faziam compras em supermercados caros das superquadras. Às vezes estava faminto, outras vezes se mostrava agressivo. Em alguns tempos era em um sorriso distante que ele se mostrava e quando estava com aquele ar disperso, na brisa, era que ele se sentia útil, se sentia alguém, se sentia capaz, se sentia especial. Provavelmente, eram nos entorpecentes que ele encontrava motivo ou desculpa para continuar ali, persistente naquela vida ingrata.

Tinha alguns amigos e, ainda que fossem de aparência estranha, era com alguns deles que ele, de vez em quando, podia contar. A brisa passava e eram esses amigos que traziam mais brisa e, quando ninguém mais tinha, juntos iam tirá-la de quem tinha! Afinal, cada um se encanta com a brisa que lhe é permitida ver ou ter!

Mas hoje o Jardel foi encontrado e acabou se transformando em notícia de jornal. Prenderam o ladrão da Asa Sul – assim dizia a matéria – e quem puder se dirigir à delegacia para reconhecê-lo como o provável batedor de carteiras que já desgostou e ameaçou tanta gente na Asa Sul, irá ajudar – apela o delegado, na tentativa de achar maiores razões para mantê-lo encarcerado.

Penso que o Jardel irá gostar de ser “reconhecido” e, talvez, se sinta até especial por isso, na ausência da brisa para consolá-lo. É triste saber que o Jardel, aos 27 anos, nunca soube e nunca aprendeu a viver de outra maneira e, que agora, terá sua vida detida em um sistema que lhe arrancará o tiquinho de humanidade que ainda poderia restar em sua alma. E sabem por quê? Porque em seus padrões ele estava apenas sobrevivendo, como eu e você tentamos fazer todos os dias!

Um comentário:

  1. Vejo centenas de Jardéis todos os dias na minha frente..
    E há tão pouco a fazer..
    :/

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